Recuemos...

ARTIGOS DO SEMANÁRIO REGIONAL TORREJANO, "O ALMONDA". por Carlos Leitão Carreira

sexta-feira, junho 09, 2006

- Camões, poeta das 7 partidas -



O 10 de Junho é apontado como data da morte de Luís Vás de Camões. Não havendo certezas em relação a tal, pior certamente seria não haver data alguma que lhe assinalasse a passagem e a obra. Pois, 426 anos passados, vamos recorda-lo.

Foram muitos os portugueses que, na gesta dos Descobrimentos e do Império Português, partiram mundo fora “em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana”. Desterrados, condenados, aventureiros, uns sem raízes ou amarras no coração, outros comprometidos e sedentos do retorno, milhares de homens circulavam pelas carreiras que rumavam às Índias, à China e múltiplos entrepostos. Por entre peles crestadas pelo sol, ressequidas pelo sal, tufões e tempestades marítimas, batalhas sangrentas em pleno mar alto contra piratas e em rebeliões, todos traziam histórias e memórias que constituiriam o chamado “País de Marinheiros”. Contudo, nem todos saberiam relatar tão bem ou imortalizar de forma tão sublime a epopeia que constituía a vida individual de cada um. Luís Vás de Camões levaria essa vivência ao limite, da mesma maneira que o fará na expressão escrita da sua memória. Recuemos…

Pensa-se que terá nascido em Lisboa, por volta de 1524. Filho de uma família galega, Camões pertence a uma nobreza decadente e pobre que vai mudando de poiso sucessivamente, de Chaves para Coimbra e depois para Lisboa. Perdendo o pai, destacado em Goa, vê a mãe contrair novo casamento afim de obter sustento. Contudo, não deixa de ser educado, sendo acompanhado por jesuítas e dominicanos, após o que, rumando a Coimbra, faz o curso de Artes e frequenta o meio aristocrático. Aí, formará o seu espírito na literatura clássica greco-romana, aprofundando o latim e aprendendo italiano e castelhano. No entanto, o espírito livre e vertiginoso de Camões leva-o a um estilo de vida pouco recomendável. Circula entre vadios e amotinados, meretrizes e boémios, num romantismo depravado que lhe vai entorpecendo a razão. Contudo, pontua e alterna violentamente este abandono de si, com as alegadas famosas paixões platónicas que dedica às damas da Corte, com as quais tem contacto, e onde eleva o amor ao nível do transcendental e imaculado. Ainda assim, é ao seu lado boémio e conflituoso que o jovem dá largas, o que, em 1548, lhe vale um desterro de alguns meses para Constância, no Ribatejo. Aí, valem-lhe alguns amigos que lhe garantem guarida, até que, em 1549, resolve embarcar rumo a Ceuta, entre a milícia do Ultramar. Aí ficará por dois anos, no decorrer dos quais perderá o olho direito, num cerco feito pelos mouros.



Em 1552, já regressado a Lisboa, é no Largo do Rossio que se envolve numa rixa com um funcionário da Cavalariça Real que se digladiava com dois amigos seus. Camões fere gravemente o homem com uma adaga, após o que, é aprisionado. Nove meses depois e apenas por perdão da vítima, Camões é posto em liberdade, contudo, condicionado a partir para a Índia por 3 anos, ao serviço do reino. Em Setembro de 1553 chega a Goa. Aí, Camões participará em expedições militares, por terra e mar, cujo salário tenta aumentar com encomendas de versos e autos que lhe fazem, bem como com a escrita de cartas ditadas por soldados analfabetos, a enviar para o reino. Em 1556, terminado o seu serviço obrigatório, Camões é nomeado provedor-mor em Macau, cabendo-lhe a administração provisória dos bens de falecidos ou desaparecidos e sendo aí que começa a composição dos Lusíadas, numa gruta onde buscava inspiração e escrevia. Face às acusações que entretanto sofre de desvio de valores alheios, é forçado a voltar a Goa para responder judicialmente. É no regresso dessa viagem que naufraga ao largo do Camboja, tendo então por prioridade salvar os manuscritos que já se adensavam e trazia sempre consigo. Nadando até terra firme, consegue salvar o que havia já escrito dos Lusíadas.

Resgatado e levado para Goa, aí ficará à mercê da sua miséria e das dívidas que entretanto contrai, sendo rapidamente aprisionado. Mas sorri-lhe a sorte mais uma vez, ganhando, através da sua escrita, a simpatia e a protecção do Vice-Rei da Índia, o Conde de Redondo, que o liberta e introduz no meio aristocrático e intelectual da região. Em 1567, trava conhecimento com Pêro Barreto, capitão de Moçambique, que lhe oferece emprego e adianta o pagamento da passagem para lá. Mais uma dívida que Camões não salda e que, com outras entretanto contraídas, leva o capitão a prendê-lo. Uma vez solto, está de novo por sua conta, miserável e desamparado, mas prosseguindo a escrita. São os amigos que mais uma vez o acodem e, depois de lhe darem guarida, juntam dinheiro entre si, compram-lhe umas roupas, saldam-lhe as dívidas e ajudam-no a regressar a Portugal, terminando mais uma aventura e onde chega em 1570. Uma vez em Lisboa, Camões vai viver com a sua mãe na Mouraria, onde passa grandes privações. Acalenta como grande objectivo a publicação dos Lusíadas que antes concluíra, e para tal, pede auxílio ao Conde do Vimioso. Por intermédio deste, obtém permissão real para o seu projecto, que, em inícios de 1572 toma corpo e sai em 200 exemplares. Com esta publicação, D. Sebastião atribui-lhe uma pequena tença trienal de 15 mil reis, o que, em orçamento diário, era diminuto e insuficiente para seu sustento.



Em pleno ano de 1579, Lisboa é assolada pela peste e Luís Vás de Camões, já de si debilitado, é facilmente contagiado, passando o resto dos seus dias na cama, no ambiente húmido e infecto dos bairros populares de Lisboa. Numa derradeira carta, endereçada ao capitão D. Francisco de Almeida, faz referência ao desastre de Alcácer Quibir, de 1578, bem como à ruína financeira do reino, prevendo aí o fim da sua independência em favor dos castelhanos.

"Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela".

O seu próprio funeral é pago por caridade e celebrado junto ao cemitério do Convento de Santana, em Lisboa.


Túmulo de Camões no Mosteiro dos Jerónimos.

3 Comments:

  • At 7:08 da tarde, Blogger Unknown said…

    o tempo não apagou suas menssagense na nossa memoria, ficou marcada lindos sonetos que nos espiram viver e descobrir a arte de amar.

     
  • At 7:12 da tarde, Blogger Unknown said…

    o amor é um dos sentimentos mais humano e um dos mais puros , só amando a se propio que podemos amar o prossimo,o mundo e por fim um companheiro.

     
  • At 7:14 da tarde, Blogger Unknown said…

    meu coração não se cansa amam metade os que amam com esperança , amar sem esperança é o verdadeiro amor.

     

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