Recuemos...

ARTIGOS DO SEMANÁRIO REGIONAL TORREJANO, "O ALMONDA". por Carlos Leitão Carreira

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Artigo de Opinião - Este ano, um Pai Natal torrejano.



A questão é simples, isto não está fácil! Os preços aumentam, o orçamento diminui e, na mesma proporção, cresce aquele sentimento absurdo de que há um forte investimento a fazer…porque é Natal! Não é que seja mau receber presentes, ou especialmente ver a cara de quem recebe os nossos… Mas torna-se profundamente pernicioso este imenso esforço financeiro que se faz hoje em busca da prenda ideal. É que, geralmente, a “prenda ideal” comporta custos que vão muito além de uma gestão prudente dos nossos meios, e o problema assume proporções complicadas quando a prenda ideal se multiplica por umas quantas. Queremos dar uma lembrança a toda a gente, mas nem sempre é fácil encontrar algo suficientemente agradável a um preço comedido.

Pois, como em tempo de contenção todos procuramos alternativas que nos permitam manter a tradição, gostaria de partilhar convosco a minha ideia para este Natal. No passado dia 10 compareci à apresentação do “Mercado dos Sabores”, na alcaidaria do castelo. Uma iniciativa que visou a divulgação dos produtos tipicamente torrejanos, bem como uma abordagem sobre a importância da preservação dos métodos tradicionais de produção, que encerram um saber e um sabor únicos. Contando com a presença do famoso Chefe Silva, enalteceram-se o mel, o vinho, as ervas aromáticas, os licores, os doces, e, nas palavras do próprio Chefe, aquele que é o melhor de todos os azeites, o torrejano pois então! Mas, de facto, o enaltecimento daquilo que já sabemos ser bom, não foi o mais importante. A preservação da produção tradicional colide, não poucas vezes, com as metodologias e condicionantes que nos são externamente impostas, dificultando uma venda organizada destes produtos e debilitando assim a continuidade desses processos. Surgindo como essencial a promoção de uma legislação que salvaguarde também este tipo de património cultural, importa, antes de mais, reabilitar e valorizar estes conhecimentos, garantido que haja uma informação que passe e deixe marca entre os consumidores, de maneira a aumentar a procura.

Ora, neste pequeno mercado, encontrei pessoas que, para além de exporem para venda produtos raros, específicos e de uma extrema qualidade, fazem questão de encontrar fórmulas originais de apresentação dos mesmos, transformando o que poderia ser uma mera embalagem, numa espécie de bibelot de absoluto requinte, capaz de envergonhar as prateleiras de qualquer hipermercado. Os preços…tendo em conta o conjunto, são tudo menos excessivos, convidando ao investimento. Os caros leitores concebem outra oferta tão cheia de bom gosto como um delgado e colorido frasco de licor com o rótulo de “Torres Novas”? Ou um pote de mel ou de figos em calda de Torres Novas? Ou uma pequena cesta de vime torrejana a abarrotar de frutos secos torrejanos? Ou um pequeno pote da olaria torrejana com inscrições à nossa escolha e cheio de doce de frutos…torrejanos? Ou um pequeno saquinho bordado, e com a mensagem que quisermos, cheio de ervas aromáticas da nossa Serra? Ou uma bonita caixa de madeira com frascos de azeite torrejano? E o caro leitor sabe quanto gastaria com este tipo de lembranças? Decerto muito menos do que talvez pensa gastar este ano…!

O bom gosto passa essencialmente pelo amor que colocamos nas coisas e pelo facto da as criarmos a pensar em alguém. Daí que, este Natal, em que os tostões não abundam, seja talvez uma boa oportunidade para reanimar o lado mais puro desta tradição, descobrindo que o bom gosto, afinal, se descobre justamente na humildade da dedicação com que os nossos artesãos recriam e transformam a natureza. E eles, ao que tenho visto, estão abertos a sugestões e encomendas com originalidade. Neste Natal, aqui este “Pai-Natal” será definitivamente torrejano.


Para mais informações: Associação Nacional dos Produtores de Frutos Secos e Passados (em frente ao café Império); a loja de artesanato (nas traseiras do edifício do novo mercado); o CRIT (Centro de Reabilitação e Integração Torrejano) ou a Mercearia Nelito.