O que tem a Sexta-Feira 13?
Actualmente, não é fácil entrar numa livraria sem que a febre esotérica ligada aos templários não nos entre pelos olhos a dentro. Desde o famoso “Código Da Vinci”, o tema desdobrou-se em largas dezenas de publicações por todo o mundo, esgotando todas as teorias possíveis e imaginárias. Este Natal não é excepção e é ver as prateleiras repletas de mais do mesmo. Ainda assim, parece-me justificável que esta semana se aborde o tema, simplificando-o tanto quanto possível.
No dia 29 da presente semana, assinalam-se 691 anos da morte de Filipe IV, o Belo, rei francês da dinastia capetíngia. Contudo, esta efeméride não passa de um pretexto para abordar aquilo que de facto nos interessa, ou seja, a origem da “azarenta Sexta Feira 13”. Recuemos…
Há muitos, muitos anos, por volta de 1118, nove cavaleiros cristãos abandonam a Europa rumo ao Médio-Oriente, onde havia sido recentemente implantado o reino cristão de Jerusalém. Terra de lugares santos e alvo de constante peregrinação, era também atractivo para todo o tipo de malfeitores, que viviam dos saques perpetrados ao longo das rotas dos peregrinos. Os crescentes massacres e roubos praticados entre o velho porto de Jafa (actual cidade de Tel Aviv) e Jerusalém, juntaram estes homens sob um manto branco e uma cruz vermelha, com o propósito de proteger os fiéis. Inicialmente “Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo”, ficariam conhecidos como “Templários” ou “Guardiães do Templo”, o que se deveu à mítica localização do seu primeiro quartel-general, instalado no espaço onde, muito antes, se erguia o Templo do Rei Salomão.
O sucesso e a visibilidade desta iniciativa, levou à necessidade da criação de uns estatutos que os organizasse enquanto Ordem, sendo então redigidos pela mão do abade de Claraval (futuro S. Bernardo). Compreendida a importância que teria para a Igreja a posse de uma Ordem monástica inteiramente ao seu serviço e que serviria para fazer a guerra, esta foi posta sob a exclusiva autoridade do Papa, como tal, nem rei nem bispo teriam sobre eles qualquer poder. Ora, este estatuto conferia à Ordem uma imensa autonomia e prestígio, ao que esta correspondia com inúmeras vitórias sobre o Islão, resgatando fartos valores logo enviados para a Europa, desenvolvendo e protegendo as trocas comerciais a Oriente, erguendo fortalezas, tornando-se fiéis depositários da riqueza de nobres e reis por toda a Europa… Pode dizer-se que nos fins do séc.XIII, estes eram uma espécie de Caixa Geral de Depósitos de toda a Cristandade. O próprio rei francês devia muito dinheiro aos templários, a sua guerra na Flandres agravara uma situação económica já de si difícil, levando-o a sujeitar-se ao crédito e aos juros da Ordem (cujo imponente quartel-general se encontrava já em Paris, contendo aí todas as suas riquezas).
É então que Filipe IV, cansado dos juros e dividas contraídas aos Templários, promove uma forma de saldar essas dívidas. E como?
Pairava já então sobre os Templários a suspeita de práticas pouco cristãs, onde se incluía a negação de Cristo, a adoração de ídolos, a prática da homossexualidade, entre outras. Ora, em tempo de crescente fervor cristão, isto fragilizaria qualquer instituição, por forte que fosse. Aliando estas suspeitas ao descontentamento geral, pelos juros que a Ordem exigia ao rei francês em tempo de carência, Filipe resolve cortar o mal pela raiz.
Na sexta-feira, dia 13 de Outubro de 1307, dá-se uma das maiores operações policiais ao tempo. Mantendo tudo em segredo, Filipe faz circular as suas ordens apenas pelas autoridades dos locais onde existiam comendadorias templárias. As ordens eram para que no mesmo dia e pela mesma hora, todos os cavaleiros da Ordem em França fossem aprisionados, evitando desta forma qualquer reacção possível. Os apelos que ainda foram feitos junto do Papa revelaram-se inúteis. Na verdade, Clemente V encontrava-se comprometido com o rei francês desde que este lhe garantira o pontificado, em detrimento do candidato italiano. Assim, ainda que a Ordem estivesse sobre a sua exclusiva tutela, o Papa submete-se à vontade de Filipe e a 22 de Novembro, emite uma bula ordenando a prisão e a inquirição aos cavaleiros da Ordem, sendo o eminente jurista Nogaret a redigir e a liderar todo o processo. Esta inquirição fez-se por meio da tortura, e o estiramento de membros sobre um potro (onde eram amarrados), matou vários elementos antes de confessassem. Certo é que outros falaram, sendo registados relatos onde se admitia a idolatria, a sodomia, que se cuspia na cruz e renegava Cristo nos rituais, etc., registando-se a do próprio Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem.
Passados 7 anos, obtidas as confissões e confiscados os bens da Ordem pela Coroa, arma-se um grande cadafalso em frente da catedral de Notre Dame, em Paris. Aí se reuniriam os inquisidores para ler a sentença. É então que, apesar de apenas condenado a passar o resto da vida num mosteiro (uma vez que, tendo confessado se mostrava arrependido), o grão-mestre toma a palavra diante do rei, dos magistrados e de uma multidão, para então renegar tudo o que havia confessado sobre tortura. Imediatamente se mandou ali acender uma grande fogueira, onde Jacques de Molay foi amarrado e consumido pelas chamas, enquanto bradava maldições sobre aqueles que o haviam perseguido e morto: O jurista Nogaret, o Papa Clemente e o rei Filipe. Consta que a maldição intimava aqueles 3 a comparecer perante o “Supremo Julgador” no prazo de um ano. Certo, é que em menos de um ano todos 3 haviam deixado este mundo, e aquela Sexta-Feira, dia 13, para sempre ficou na memória colectiva como um dia de particular azar, em que se deu inicio a um processo para sempre amaldiçoado.
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