Recuemos...

ARTIGOS DO SEMANÁRIO REGIONAL TORREJANO, "O ALMONDA". por Carlos Leitão Carreira

sexta-feira, novembro 11, 2005

1755 - O Terramoto hoje.



Pelas 9:40 da manhã do passado dia 1 de Novembro, badalaram em uníssono os sinos das igrejas lisboetas. Assinalavam-se os 250 anos volvidos da grande catástrofe que foi o terramoto do Dia de Todos os Santos, ocorrido nesse mesmo dia, nesse mesmo momento, na antiga cidade de Lisboa.
Acompanhando a iniciativa religiosa, a efeméride foi satisfatoriamente assinalada por vários órgãos de comunicação social. Aos artigos, suplementos, desdobráveis e à inclusão de abundante apoio iconográfico na imprensa escrita, juntaram-se as referências em telejornais, bem como reportagens, documentários e até a reposição de ficção televisiva alusiva ao tema. Uma questão de se estar atento. Assinalável ainda uma actuação da Orquestra Metropolitana de Lisboa na imensa igreja de S. Domingos, em memória de quantos por ali penaram 250 anos antes. No entanto, os responsáveis pela autarquia de Lisboa deixaram que este dia passasse sem que lhe dedicassem uma atenção minimamente proporcional à actualidade do tema. Lembremos que as exactas condições naturais que causaram a tragédia se encontram prontas a agir novamente. Fica-nos a sensação de que a edilidade gosta pouco de se associar abertamente a uma verdadeira demonstração de pesar e de humildade perante a História, perante a força dos elementos e a memória viva daqueles que, “do lado de lá”, ainda nos tentam despertar os sentidos, bem como antigas lições aparentemente já esquecidas. Na verdade, embora a memória colectiva nos distancie o coração dessas almas sofridas, parece subsistir um sentimento de temor que torna o tema tabu. O medo de um novo cataclismo só é comparável à certeza da sua inevitabilidade. Os lisboetas sabem-no, sentem-no como uma questão de anos, dias, horas, minutos até, quem sabe? Assim sendo, mais vale viver e não massacrar os ânimos, que por outros motivos já o estão de sobeja. A comunidade científica é unânime e assegura o fenómeno para uma relativa proximidade temporal. Dizem ser uma questão de energia acumulada de que a Terra se tem de aliviar periodicamente. Ora, quanto maior for esse hiato, maior será a intensidade do sinistro. Cronologicamente mais próximos, 1356 foi o terramoto de maiores proporções do seu tempo, 175 anos depois, em 1531, nova grande destruição grassa por Lisboa e arredores. 224 anos depois, o ano de 1755 traz novamente a devastação e, salvo algumas pequenas demonstrações destas forças, passaram-se já 250 anos sem um sinal claro de alivio tectónico que nos permita o sono descansado.

No entanto, não se pode aceitar que a dita edilidade, bem como o próprio Governo, se escusem de encarar como real a falha sísmica do Vale do Tejo e a sua potencial manifestação. A quimérica implantação do Metropolitano no Terreiro do Paço, a multiplicação de parques automóveis subterrâneos em plena Baixa Pombalina, o polémico Túnel do Marquês, são autênticas afrontas à força dos elementos, revelam a ânsia de inaugurar placas a qualquer custo e legam assim futuros factores potenciadores de uma catástrofe já de si terrível. Sendo estas as prioridades dos nossos responsáveis, bem se lhes compreende a falta de voz na efeméride. Para quê sujeitarem-se a ter de encarar perguntas incómodas sobre a segurança das obras públicas, a eventual existência de um plano de emergência em caso de catástrofe, ou sobre um também eventual regulamento de prevenção para a construção de habitações? “Quem vier a seguir que encare o devir” – Este é o mote – “E se vier em meu tempo, que Deus me poupe o tormento!”

Deus… Isto então levar-nos-ia a páginas de dissertação. O nosso D. José Policarpo veio falar e bem, como de costume. Apelou à remissão de pecados, lembrando os efeitos da ira divina sobre a soberba e a falta de humildade dos homens. A mesma ideia fora já difundida aquando do terramoto de 1531. É o próprio Gil Vicente que, numa carta a el-Rei D. João III, refere a ânsia com que os clérigos logo se apressaram a apontar a mão punitiva de Deus para com os pecados das gentes, prometendo-lhes ainda um segundo terramoto a rematar o primeiro. Em 1755 esta ideia foi essencialmente lavrada pelos jesuítas na voz de Gabriel Malagrida, um padre italiano de renome que chegou a criar um panfleto, desautorizando o rei (e o Marquês de Pombal) e atribuindo-lhe, bem como ao seu povo, as causas da ira divina. Só que este teve azar, como era próximo dos Távoras, foi astuciosamente incluído no processo movido à dita família pelo Marquês de Pombal, depois estrangulado e queimado em auto-de-fé.

Ainda assim, podemos deixar no ar as mesmas questões que ao tempo opuseram religiosos e humanistas por toda a Europa:

-Porquê uma cidade tão devota como Lisboa ser o alvo da tal ira divina?
-Como pôde um “Deus justo” permitir a morte indiscriminada de bons e pecadores?
-Como pôde esse mesmo Deus permitir a ruína de tantos templos, deixando ao invés intactos os bordéis da chamada “Rua Suja”?
-Como justificar a morte de tantas crianças?

Seja como for, as cerca de 12 mil vítimas mortais de 1755, têm forçosamente de constituir património memorial deste país, porque entre pobres e ricos, pretos e brancos, cultos e ignorantes, malfeitores e religiosos, não foram feitas distinções e a condição humana pouco pode em tais desígnios. Que a ciência o aguarda já sabemos. Por força das inevitabilidades da Natureza ou pela vontade de um Deus vigilante… De acordo com o sentimento do leitor… Valerá a pena pensar muito mais nisto?

1 Comments:

  • At 9:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ou esse texto foi copy paste ou kem o escreveu e o pos no blog "tem um cerboro na cabeça"!

    Vai-me ser mt util no meu trabalho de historia...

    (eu n faço copy paste)

     

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